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sábado, 16 de julho de 2022

Margarida Maria Alves pode ser a primeira santa paraibana pela Igreja Ortodoxa; entenda

A sindicalista e defensora dos direitos dos trabalhadores rurais Margarida Maria Alves pode se tornar a primeira santa paraibana pela Igreja Ortodoxa. O processo se iniciou através do pedido de fiéis da Igreja Ortodoxa Autônoma Greco Brasileira de Campina Grande. A canonização já foi aprovada por uma comissão e, atualmente, necessita da aprovação do Sínodo, que é uma reunião de bispos. A previsão é que Margarida, que já foi beatificada pela Igreja Ortodoxa em abril de 2020, seja canonizada até agosto de 2023. 

O protocolo não é o mesmo da Igreja Católica Romana. O bispo ortodoxo Vladyka Patricius Maximus, que é responsável pelo processo, informou que ele se dá a partir do pedido de uma comunidade local, ou seja, de uma igreja. “Fazemos, no caso de Margarida, um estudo teológico em torno da Patristica, observando os critérios adotados pelos Pais da igreja. Ou seja, se há vínculos entre a fé católica e o testemunho dado, ocasionando assim o martírio”, explica o bispo.

Margarida era católica e participava da CPT [Comissão Pastoral da Terra]. A deliberação sobre a Canonização de Margarida Maria Alves será realizada através do nosso Santo Sínodo dos Bispos da Igreja Ortodoxa”, diz Vladyka Patricius.

De acordo com o bispo, o processo foi aberto na Arquieparquia da Santa Mãe de Deus Theorokos, que é uma espécie de arquidiocese, só que no âmbito de quatro estados: Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Alagoas. “Pertence ao Patriarcado Ortodoxo das Nações, que tem sua sede em Paris, na França. Sua Santidade é o Patriarca Nicolás I. Agora está sob a responsabilidade do Bispo Patricius Maximus que pertence à Igreja Ortodoxa Autônoma Greco Brasileira”, afirma.

O religioso explica que “o estudo teológico analisa se a candidata, através da Tradição Apostólica e as Sagradas Escrituras, além dos Pais da Igreja, segundo o Clemente Romano: A) não  tenha divergências com a fé católica e apostólica; B) apresente em vida as virtudes do amor e da fraternidade; C) se desenvolve qualquer tipo de espiritualidade; D) não tenha tomado posições incompatíveis com o Evangelho, a vontade de Deus, a retidão e a justiça”.

O São Clemente Romano, citado pelo bispo, trata-se das condições para se tornar mártir pela igreja ortodoxa. Além disso, o bispo também informou que é impossível haver retrocesso a esse respeito” e Margarida Maria Alves deve se tornar a primeira santa paraibana pela Igreja Ortodoxa. 

“Como sou o presidente da comissão de investigação pela Causa dos Santos pela Igreja Ortodoxa Autônoma Greco Brasileira, recebi dos membros da mesma a indicação de vários nomes de candidatos. Margarida veio numa lista e estava logo na primeira posição”, declara o bispo, que enxerga grande reconhecimento da sindicalista por parte dos membros da Igreja Ortodoxa Autônoma Greco Brasileira, localizada em Campina Grande.

A Igreja Ortodoxa Autônoma Greco Brasileira que está localizada em Campina Grande existe desde 2017. Em 17 de abril de 2020, Margarida Maria Alves se tornou beata da igreja. O bispo explica que essa igreja é única na Paraíba e que “existem outras igrejas ortodoxas na Paraíba, mas que ou são independentes ou que pertencem a outros patriarcados”.

Por enquanto, a canonização de Margarida Maria Alves será válida nesta igreja da Paraíba, podendo vir a ser legitimada também por outras igrejas Ortodoxas. “Feito numa igreja Ortodoxa legítima, por um bispo legítimo e tendo procedência a documentação, não vejo nenhum impedimento para outras igrejas aprovarem. A tradição ortodoxa depende do sínodo e isso é inegável”, explica o bispo de Campina Grande.

Legado de luta pelos trabalhadores do campo

Margarida Maria Alves nasceu no dia 5 de agosto de 1933, em Alagoa Grande, no agreste paraibano. Ela foi a primeira mulher a ocupar o cargo de presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande. Durante 12 anos na presidência da entidade, lutou para que os trabalhadores do campo tivessem seus direitos respeitados. 

As denúncias de abusos e desrespeito aos direitos dos trabalhadores nas usinas da região, feitas por Margarida Alves, resultaram no seu assassinato, encomendado por fazendeiros. Em 12 de agosto de 1983, ela foi assassinada com um tiro de espingarda no rosto disparado por um matador de aluguel.

Os assassinos de Margarida nunca foram condenados e, dos envolvidos, apenas um foi julgado. Ele ficou preso por três meses, tendo sido absolvido em 2001, em João Pessoa. Em novembro de 2019, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5), determinou que José de Arimateia, filho de Margarida Maria Alves, ganhasse uma indenização de R$ 431 mil, sendo R$ 181.720 a título de reparação econômica e R$ 250 mil por danos morais pela morte da mãe, paga pelo Estado brasileiro.


Jornal da Paraiba



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