Por entender que a reforma tributária é o ponto de
equilíbrio para a recuperação econômica, o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB)
defende que as discussões sejam retomadas com urgência. Segundo o parlamentar,
que é relator da comissão mista que analisa o tema no Congresso Nacional, o
debate em torno de um texto único pode ocorrer, inclusive, virtualmente, ainda
sem data definida.
Em entrevista on-line dada à empresa de
análise política Arko Advice, Aguinaldo Ribeiro garantiu que a agenda da
reforma tributária segue como prioridade do Legislativo e que ganhou ainda mais
peso em 2020 em virtude da crise.
“Se a reforma tributária já era importante
do ponto de vista estrutural, do ponto de vista de modernização e de
simplificação ela passa agora a ser crucial em razão da ampliação do gasto
fiscal que nós tivemos por conta da pandemia. Ela passa a ser, de fato, uma
reforma que não pode ser adiada e, sobretudo, tem a necessidade de equalizar
essa relação de dívida com o PIB, que vai ficar intensa por causa do gasto
público ampliado”, pontua.
Ao citar a necessidade de tornar o setor
produtivo mais competitivo no mercado internacional, Ribeiro enfatiza que a
simplificação do sistema tributário no Brasil vai beneficiar empresas e
consumidores, que vão pagar menos por mercadorias.

Dados do Banco Mundial, divulgados pelo relatório Doing
Business 2020 em outubro de 2019, mostram que os empresários brasileiros
precisam, por ano, de 62,5 dias (mais de 1,5 mil horas) apenas para pagar
impostos. O número é o maior entre os 190 países do ranking e leva em conta o
preparo, a declaração e o pagamento do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica
(IRPJ), impostos sobre as vendas e sobre circulação de bens e serviços, como o
ICMS, além de tributos sobre salários e contribuições sociais. A efeito de
comparação, as nações mais ricas que fazem parte da Organização para Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE), cumprem suas obrigações tributárias em
158,8 horas, cerca de 10,5% do tempo gasto no Brasil.
Para que as empresas e produtos brasileiros
ganhem espaço interna e externamente, Aguinaldo Ribeiro ressalta que o sistema
tributário nacional precisa avançar sob o risco de o Brasil afastar
investimentos estrangeiros.
“Precisamos ter transparência no nosso
sistema tributário, com uma legislação simples e neutra. Hoje, a estrutura
tributária, que demanda muito tempo de uma empresa apenas para apurar esses
impostos, faz com que o imposto seja um fator de competitividade dentro do
ambiente de negócios, quando na verdade deveria ser neutro”, completa.
Ribeiro indica ainda que a aprovação da
reforma tributária já é consenso entre União, estados e municípios, vista por
esses atores como "saída para superar a crise que se instalou no
país".
Perguntado sobre o cronograma de trabalhos,
próximos passos de debate e participação do governo na construção do texto da
reforma tributária, o presidente da comissão mista, senador Roberto Rocha
(PSDB-MA), disse apenas que o eixo de discussão deve se manter quando o assunto
for retomado.

Cenário
Até o início de
março, dias antes do registro da primeira morte por coronavírus no Brasil,
deputados e senadores se debruçavam sobre os textos da PEC 45/2019 (Câmara) e o
da PEC 110/2019 (Senado). As duas propostas visam a unificação da cobrança de
impostos sobre bens e serviços nos estados, municípios e União. Em
contrapartida seriam criados o Imposto Sobre Bens e Serviços (IBS) e o Imposto
Seletivo (IS). Com a semelhança entre elas, a ideia da comissão mista é aprovar
uma redação única com sugestões das duas Casas.
Com a reforma
tributária, o modelo de arrecadação do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias
e Serviços deve mudar. Essa tributação passaria a incorporar o IBS, com
alíquota padronizada em todos os entes da federação, com parte do valor
flexível e sob competência dos estados, conforme prevê a PEC 45/2019.
Além disso, a
cobrança do imposto estadual deve ter a dinâmica invertida. Hoje, o ICMS é
cobrado no estado onde o produto é fabricado. Com a criação do IBS, o tributo
passa a ser retido no destino da mercadoria. A medida é vista por parlamentares
e especialistas como saída para diminuir a “guerra fiscal” e tornar a
concorrência entre os estados mais justa.
Tão importante
quanto ajustar distorções como a do ICMS, o advogado especialista em direito
tributário Marcelo Lucas de Souza entende que a reforma tributária deve reduzir
gastos administrativos e facilitar o controle interno de empresas e órgãos
fiscalizadores, com regras claras.
“Eu acredito que
o atual projeto, se aprovado, ajuda a reduzir o contencioso tributário das
empresas, que hoje é gigante em função da complexidade da tributação.
Simplificar os impostos irá reduzir os gastos das empresas em tempo e na
quantidade de erros cometidos em função de interpretações equivocadas por conta
da infinidade de regras tributárias vigentes”, ressalta.
A PEC 110/2019,
de autoria do Senado, pretende extinguir 10 tributos: IPI, IOF, CSLL, PIS,
Pasep, Cofins e Cide Combustíveis, de arrecadação federal; o ICMS, de
competência dos estados; e o ISS, de âmbito municipal, além do
Salário-Educação. Em ambos os textos, tanto a arrecadação quanto a partilha
seriam únicas para União, estados, municípios e Distrito Federal. Dessa forma,
a cumulatividade de cobrança, principal alvo de reclamação do setor produtivo,
seria extinta e incidiria apenas no estado de destino do produto fabricado.
Em entrevista ao
UOL no início de junho, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, assegurou que o
Congresso Nacional deve abrir espaço para discutir a reforma tributária em
julho e não descartou a possibilidade disso ocorrer por videoconferência.
Braisl 61