Com a infância interrompida pela tragédia, José de Arimatéia cresceu desejando vingança e conta que chegou a desenvolver alcoolismo. "Aos 18 anos fui embora para o Rio de Janeiro, muito revoltado, me tornei um jovem muito traumatizado e que queria vingança, sonhava com isso todo dia", lembrou.
Depois do período no Rio de Janeiro, onde viveu por alguns anos, ele retornou à Paraíba. Atualmente, vive em João Pessoa com a esposa e quatro filhos. Saudável e sem vícios, José busca levar adiante o legado da mãe.
Estado brasileiro paga indenização
Em novembro de 2019, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5), determinou que José de Arimateia ganhasse uma indenização de R$ 431 mil, sendo R$ 181.720 a título de reparação econômica e R$ 250 mil por danos morais pela morte da mãe, paga pelo Estado brasileiro.
Margarida Maria Alves teve sua condição de anistiada política do regime militar reconhecido, e esse ato concede ao anistiado e seus dependentes econômicos o direito à devida reparação pelos danos causados em decorrência da perseguição política.
Os assassinos de Margarida nunca foram condenados e, dos envolvidos, apenas Zito Buarque foi julgado. Ele ficou preso por três meses, tendo sido absolvido em 2001, em João Pessoa.
Legado de Margarida Maria Alves
Líder sindical Margarida Maria Alves foi assassinada em 1983 por motivos políticos, na Paraíba — Foto: TV Cabo Branco/Reprodução
A historiadora Ana Paula Romão pesquisa memórias camponesas, educação das relações étnico-raciais e ensino de história. Ela explica que a luta de Margarida Maria Alves era pelos direitos trabalhistas do campo, pela educação e pelas mulheres.
“Ela lutou muito pelo direito à carteira profissional, à carteira de trabalho, documentos do trabalhador do campo. Ela fundou o Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural junto com Paulo Freire. Ela também fundou o movimento Mulheres do Brejo”.
O legado da paraibana incentiva a luta pelos direitos até hoje. A Marcha das Margaridas, por exemplo, acontece desde 2000 e reúne centenas de mulheres do campo em Brasília.
Marcha das Margaridas leva trabalhadoras rurais de todo o país para a Esplanada dos Ministérios; foto registra ato em 2019 — Foto: Afonso Ferreira/G1/Arquivo
Para Paulo Germano, procurador do Ministério Público do Trabalho na Paraíba (MPT-PB), as
causas pelas quais Margarida lutava continuam necessárias, pois muitos trabalhadores do campo ainda não têm seus direitos respeitados.
“As causas do assassinato de Margarida e dezenas de lideranças dos trabalhadores rurais, nas últimas décadas, continuam atuais na zona rural do país. Margarida quis apenas que a legislação trabalhista fosse cumprida no campo. Hoje, milhões de rurícolas continuam sem carteira assinada e registro, à margem do sistema previdenciário e trabalhando com agrotóxicos sem o uso dos EPIs. Só a organização dos trabalhadores, como lutou Margarida, pode avançar esse processo e superar o atraso nas propriedades rurais, sobretudo no Norte e Nordeste brasileiro”, explicou.
G1/PB