A COP30, conferência para tratar mudanças climáticas da ONU (Organização das Nações Unidas), chega ao fim neste sábado (22) após dias de negociações, protestos e desafios de estrutura, que marcaram as últimas duas semanas em Belém.
O texto final elaborado entre negociadores foi desidratado e deixou de fora a que se tornou a principal defesa do Brasil ao longo da COP: o Mapa do Caminho para o fim do uso de combustíveis fósseis.
Em discurso final, André Correa do Lago, presidente da COP30, tentou ser otimista, mas realista em relação a objetivos não alcançados. “É meu dever reconhecer algumas discussões muito importantes que aconteceram aqui e que precisam continuar durante a presidência brasileira até a próxima COP, mesmo se não forem repetidas nesse texto que a gente acabou de aprovar”, afirmou.
“Nós sabíamos que alguns de vocês tinham ambições maiores para alguns dos temas. A sociedade civil vai demandar que a gente faça mais para lutar contra a mudança do clima. Eu quero reafirmar que vou tentar não desapontar vocês durante a minha presidência”, prometeu.
Lago relembrou o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início da conferência, citando que os mapas são necessários para que “a humanidade, de uma forma planejada e justa possa ultrapassar a dependência nos combustíveis fósseis no desmatamento e mobilizar recursos para esses propósitos”.
“Eu, como presidente da COP30, vou criar dois mapas: um como reverter o desmatamento e o outro transicionar fora dos combustíveis fósseis, de uma forma justa e igualitária”, continuou.
A ideia era tentar um consenso para que países se comprometessem com a ideia de, um dia, abandonar o uso do petróleo, carvão e gás, seguindo uma previsão para a transição energética. A possibilidade dividiu países, com destaque à resistência de representantes árabes.
‘Fracasso da COP30′
De outro lado, nações que são diretamente afetadas pelas mudanças climáticas, como as Ilhas Marshall, pressionaram por uma ação mais direta de países e queriam que a mudança estivesse na versão final.
A área na Oceania é uma das que pode desaparecer com o aumento do nível do mar, uma das consequências do aquecimento global.
Cerca de 30 países chegaram a enviar uma carta à presidência brasileira e pediram a revisão do texto, sob risco de “fracasso” da COP30. Ao longo da conferência, o número de países que apoiavam o debate sobre os fósseis ficou em torno de 80.
Em outra frente, a proposta atendeu interesses da Europa, com compromisso brando ligado ao financiamento. O acordo final cita compromisso de aumento até 2035, com apoio de países desenvolvidos aos que estão em desenvolvimento, mas deixou em aberto regras para esse texto.
Avanços no texto
Em outra frente, o texto final indicou avanços na pauta de adaptação climática, e citou indígenas e afrodescedentes pela primeira vez. A versão considera que a preservação de territórios tradicionais é capaz de contribuir com a adaptação climática.
O ponto foi um dos destaques de protestos na COP30 durante a Marcha pelo Clima. Representações da Sociedade Civil defenderam transição que atenda comunidades, com destaque às contribuições que podem ser feitas pelos grupos. Questões de gênero também foram citadas no texto final.
Apesar dos pontos em consenso, negociadores ainda discutem indicadores de adaptação climática. Países como Panamá, Uruguai, Colômbia e Serra Leoa não concordam com a versão aprovada. A discussão entre países suspendeu a sessão plenária.
Mapa do Caminho pelos fósseis
A presidência da COP30 afirmou que vai seguir insistindo pelo Mapa do Caminho contra os combustíveis fósseis. O texto será uma demanda para ser discutida na próxima conferência, que será sediada na Turquia e comandada pela Austrália.
A exclusão gerou uma onda de críticas. Países, entidades e ambientalistas lamentaram a proposta e cobraram a inclusão das discussões sobre os fósseis. Uma carta divulgada antes da decisão e assinada por países como Áustria, Bélgica, Chile, Colômbia, França e Alemanha frisou que o sucesso da COP dependia de um resultado “equilibrado e voltado para o futuro”.
As demais nações que endossam as críticas à proposta incluem Costa Rica, Croácia, Tchéquia, Estônia, Finlândia, Guatemala, Honduras, Islândia, Irlanda, Liechtenstein, Luxemburgo, Ilhas Marshall, México, Mônaco, Países Baixos, Panamá, Palau, Eslovênia, Espanha, Suécia, Suíça, Reino Unido e Vanuatu.
Segundo André Corrêa do Lago, a proposta final será apresentada até abril, antes de uma conferência ligada aos combustíveis fósseis na Colômbia. Ele também prometeu um segundo roteiro alternativo ligado à transição energética.
‘Traição à ciência’
Ambientalistas também reagiram à exclusão e publicaram um documento que tentava rever o ponto. Cientistas afirmaram que a decisão seria uma “traição à ciência”, em especial aos mais vulneráveis. O mesmo grupo criticou o resultado final.
“Apesar dos melhores esforços do Brasil e de muitos países que trabalharam para unir o mundo em torno de um roteiro para acabar com nossa dependência de combustíveis fósseis, forças contrárias bloquearam o acordo. Elas parecem ignorar que, ao contrário dos pavilhões da COP, não podemos evacuar o planeta Terra quando desastres acontecem”, diz trecho da análise emitida por cientistas.
O grupo conta com apoio de Carlos Nobre, maior climatologista brasileiro e reconhecido internacionalmente, além de Fátima Denton, da United Nations University; Johan Rockström, do Potsdam Institute for Climate Impact Research; Marina Hirota, do Instituto Serrapilheira, Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo; Piers Forster, da University of Leeds; Thelma Krug, Presidente do Conselho Científico da COP30.
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